quinta-feira, fevereiro 07, 2002

Bem, a conversa com Mary foi super-hiper-ultra-mega produtiva.Lembram que eu falei que ia bocejar e talz?!Eu SEMPRE bocejo e ela fica lá acordadona.Dessa vez foi exatamente o contrário (só pra pagar a minha língua).
Ela me fez pensar muito na minha vida.
Quando comecei esse blog, eu disse que tava passando por uma crise muito séria e que tava precisando de algo pra colocar tudo isso pra fora .::Nem sempre uma pessoa extrovertida é bem resolvida, melhor, quase nunca::. [desculpem a pausa, foi pra fazer uma pipoquinha.Alguém quer?!Bem,voltando ao assunto...].Na verdade, todos nós precisamos pensar e repensar nossas atitudes, crenças, valores e, além disso, analisar o que temos feito pra, assim, aprendermos com os erros (bem chavão isso,né?!Mas é assim que tem que ser...).Só que, na época que eu deveria começar a ter consciência disso pra começar a praticar, minha mãe teve o primeiro câncer.Foi uma barra!!Bem, eu só vim descobrir que tinha sido uma barra depois, pq na época eu nem conseguia assimilar direito o que tava acontecendo.Pareceu um susto rápido que foi embora (saudades de quando parecia ser só isso), mas, depois de mais ou menos uns 2 anos, houve a reincidência (o tumor reaparece no mesmo local).O sofrimento foi muuuuuuuuito maior.Eu já tinha 16 anos e comecei a me ver presa àquilo.Tinha que "me solidarizar" com o sofrimento da minha mãe, mas eu não conseguia.Eu não conseguia nem sofrer.Tentei ser indiferente, fingia que nada estava acontecendo.Mas não dava.Era minha mãe que estava sofrendo.Até essa época, eu era uma das melhores alunas na minha sala, num colégio altamente conceituado aqui em Salvador (só tem miseravão lá...hehehe).Mas, com o problema da minha mãe, eu comecei a me fechar em mim mesma.Sofria muito, mas não tinha com quem conversar.Não tenho irmã(na verdade tenho, mas é só por parte de pai e é como se não tivesse), meu irmão é mais velho(vivemos realidades muito diferentes) e estava sofrendo muito pra conseguir parar pra me ouvir, minha avó não tinha nenhuma estrutura pra dar suporte a mim e a ela ao mesmo tempo, muito menos meu pai tinha essa estrutura (e olha que ele é o famosa frio-calculista, mas numa situação dessas...).Eu me vi, então, numa fase de amadurecimento, ilhada (não tinha muitos amigos, pois tinha acabado de me mudar pra Salvador, sou de Feira de Santana, cidade próxima), sem ter em quem me apoiar ou a quem pedir socorro.
Então, não aprendi a enfrentar os problemas de cara.Simplesmente fugi deles.Não conseguia estudar mais, pq, quando parava pra ler algo, todos os problemas me vinham à cabeça e eu não tinha estrutura para enfrentá-los.Isso td foi refletido nas minhas notas no 2º ano.Passei de ano sem recuperação e sem prova final, mas foi um pouco arrastado e não aprendi muita coisa naquele ano.
Meu 3º ano foi pior ainda, me refugiei na internet.Virava noites e noites.Chegava no colégio cansada pq tinha ido dormir às 4-5 horas da manhã, pra acordar às 6 e estar no colégio às 7h.Não aprendi quase nada.Alguns professores chamaram a atenção dos meus pais, lembro bem do que uma professora disse: "Ela tá totalmente atordoada, tá desestabilizada emocionalmente,metaforicamente, está perdida no meio de um oceano", meus pais choraram muito ao ouvir isso.Mas , para a nossa infelicidade, quando eles iam começar a tentar me ajudar, os exames de minha mãe começaram a mostrar que havia algo de errado.Ela foi a Campinas e tirou outro nódulo.Imagine como ficou a minha cabeça.No ano de vestibular!Eu não estudava, não tinha idéia do que queria da minha vida profissional.O tratamento contra o câncer (quimioterapia e radioterapia) faz com que os familiares e o doente sofram mais.Era muito doloroso ver a minha mãe naquela situação, mas eu ainda fugia.Fiz vestibular pra Direito (escolhi bem na doida mesmo) e acabei passando nas faculdades (pra minha surpresa, já que não tinha estudado nada durante o ano inteiro), mas perdi na Federal, que seria bem melhor para mim.
Comecei a namorar Rafael no início do ano passado, comecei tb a minha faculdade.Ele era o único apoio que eu tinha naqueles momentos, eu não podia deixar transparecer toda minha tristeza a minha família.Infelizmente, era um apoio distante, ele tava a 800 Km de distância e nós nunca tinhámos nos visto.Esse foi um dos piores anos para a minha mãe, ela perdeu a visão de um olho por uns 3 meses, teve trombose e descobriu uns linfonódos no pulmão.E eu continuei nesse turbilhão de problemas, sem conseguir me resolver.
Fim de ano e eu resolvi fazer vestibular, fiz a 1ª fase e Rafael me falou que viria me conhecer.A princípio, eu fui às nuvens.Mas com o tempo, apareceriam as marcas que todos esses anos de falta de estabilidade emocional me deixaram.Eu me vi quase recusando a Rafael e ao meu antigo sonho de passar na Federal (mesmo tendo consciência de que sofreria muito se os deixasse de lado).
Rafael veio e sentiu na pele o que seria conviver com uma pessoa que tem toda essa carga de sofrimento.Eu não amadureci direito, eu não consegui descobri quem sou e o que eu quero.Ele foi vitima disso.Foi maravilhoso ver que ele me tinha carinho e que, mesmo com td aquilo que eu tava causando a ele, ele tava ao meu lado.E foi por ele que eu resolvi parar pra realmente enfrentar os meus problemas, parar pra refletir sobre a minha vida.Sei que posso fazer algumas pessoas sofrerem com as conclusões que vou chegar, mas é necessário, não quero que Rafael continue sofrendo por minha causa, não quero que outras pessoas passem pelo mesmo (eu sei que minha família sofre com isso tb), não quero tb me ver desistindo de sonhos, como o da Federal, por causa disso, não quero perder a minha vida.Quero recuperá-la.
Vou "fechar pra balanço" por um tempinho.Começarei já!Nesse feriado de carnaval.Por isso a minha conversa com Mary foi legal.Eu já tava decidida a isso, ela me deu a maior força e ainda me deu alguns toques.
Não quero mais empurrar a vida com a barriga, fingindo que não vejo os meus problemas.Sei que pode demorar e que nunca vai se concretizar 100%, mas eu quero uma melhoria de vida e vou lutar por isso.
Sei que ngm ou quase ngm vai ter saco pra ler td isso, mas me serviu.Eu consegui entender um pouco de mim, entender o que eu realmente preciso.Simplesmente escrevendo o que eu tow sentindo.

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