((Para quem ainda não viu, a piada dessa sexta-feira))
Sexta-Feira, 7 de Fevereiro
Blair é acusado de "plagiar" dossiê contra o Iraque
Por Dominic Evans
LONDRES (Reuters) - O primeiro-ministro Tony Blair foi acusado na sexta-feira de recorrer aos mesmos métodos de propaganda de Saddam Hussein, por causa descoberta de que trechos de um dossiê do governo sobre o Iraque foram plagiados de trabalhos acadêmicos.
O dossiê foi publicado nesta semana em uma página do governo na Internet e dizia que o Iraque montou uma intensa campanha para enganar e intimidar os inspetores de armas da ONU. Na quarta-feira, em seu discurso ao Conselho de Segurança da ONU, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, elogiou o relatório.
O documento dizia ter recolhido informações "de várias fontes, inclusive de material de inteligência [do serviço secreto]". Na sexta-feira, porém, as autoridades admitiram, constrangidas, que pedaços inteiros do texto foram copiados -- erros gramaticais inclusive -- de uma tese acadêmica. Reservadamente, alguns ministros admitem que é difícil recolher informações sigilosas sobre o Iraque.
Vários políticos disseram que, tentando enganar o público, Blair está colocando em perigo toda a credibilidade das acusações contra Saddam Hussein. "É o tipo de coisa que o próprio Saddam divulga", fulminou Jenny Tonge, do Partido Liberal Democrata.
Peter Kilfoyle, que já foi vice-ministro da Defesa de Blair, afirmou estar chocado com a revelação. "Só faz aumentar a impressão geral de que estamos recebendo uma mistura de meias-verdades, pressuposições e distorções", afirmou ele à rádio BBC.
Glen Rangwala, especialista em Iraque na Universidade de Cambridge, analisou o relatório do governo e disse à Reuters que 11 das suas 19 páginas foram "totalmente retiradas de textos acadêmicos".
"Se a natureza dessas informações é na verdade apenas uma pesquisa na Internet, isso lança dúvidas sobre a plausibilidade das acusações anteriores do governo", disse Rangwala, um crítico da posição anglo-americana sobre o Iraque. Ele disse que o texto é medíocre e parece ter sido montado às pressas.
"Isso mostra a preocupação do governo britânico com a desconfiança pública em relação às informações que estão circulando -- e a falta de argumentos substanciais que provem que as inspeções não são uma alternativa viável à guerra", afirmou.
Um porta-voz de Blair disse que o documento é essencialmente correto e que ninguém pode duvidar do argumento central do governo, o de que o Iraque tenta enganar os inspetores da ONU.
"Em retrospecto, para esclarecer qualquer confusão, deveríamos ter reconhecido quais partes [do relatório] vieram de fontes públicas e quais vieram de outras fontes", afirmou.
Um relatório anterior sobre direitos humanos no Iraque, publicado em dezembro, também foi muito criticado. Na ocasião, a Anistia Internacional acusou o governo de mencionar abusos que haviam sido amplamente ignorados na década de 1980, quando o regime de Saddam Hussein gozava de apoio ocidental no conflito contra o Irã.
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