quarta-feira, junho 26, 2002

Falando sobre São João, acho que o nordestino já nasce com essa tradição no sangue. Quando pequenos dançamos nas quadrilhas do colégio, ajudamos na decoração de ambientes, comemos muito milho e amendoim, nos vestimos a caráter e ficamos na expectativa até o dia de comprar os fogos de artifício.
As lembranças da minha infância são fresquinha e, se necessário, são revividas através de fotos (eu tenho várias). Começava com a compra do tecido para a caipira (vestidinho bem colorido no estilo interior), mamãe escolhia o modelo e sempre arrasava. Aí vinham as comidas típicas: bolo de milho, milho cozido, milho assado, amendoim cozido, pé-de-moleque, bolo de puba, pamonha, entre outras coisas. O cheiro é característico, lembro bem de entrar em casa e sentir o cheiro do milho cozido vindo da cozinha. As músicas começavam a tocar nas rádios para aquecer o povo. Luís Gonzaga e Dominguinhos sempre foram obrigatórios. Vinham os ensaios para a quadrilha na escola. Lá aprendíamos diversos passos e músicas. Deixávamos a vergonha de lado e nos apresentávamos para pais, colegas, professores no dia da festinha de São João da escola. Eu fiz isso até os meus 10 anos. E cheguei até a ser eleita a Rainha do Milho numa dessas festas, mas, sinceramente, não tenho idéia de quais eram os requisitos para essa escolha. Valia pela diversão e pelas lembranças maravilhosas deixadas. A cidade toda enfeitada, o clima de São João nas lojas, nas ruas, nas casas, nas escolas e era a vez de sair para comprar os fogos. Estalos de bebê (também conhecidos como traque de massa), chuvinhas, cobrinhas, vulcões, dentre outros, todos para o grande dia na fogueira. No meu caso, era o ano todo juntando madeira para armar a fogueira. Quanto mais, melhor, pois poderia armar fogueira por 3 ou 4 dias. Era o momento da confraternização. Todas as crianças na rua com seus fogos de artifício, vestidas a caráter (botas, chapéu, trancinhas, maquiagem, para as meninas e calças com retalhos, camisas quadriculadas e botas para os meninos). Era permitido às crianças passear pelas casas conhecidas, experimentando dos diferentes quitutes. Quando já dominados pelo sono, íamos dormir com o cheiro de fumaça no cabelo, na roupa, no corpo, satisfeitos por todas as travessuras cometidas.
As lembranças são as melhores possíveis. Era um momento de alegria, de libertação, de esquecer das diferenças e confraternizar. Tive a felicidade de ser criada numa cidade do interior, na qual algumas tradições ainda eram seguidas. Parte dessas coisas ficaram só na lembrança. Cresci e me mudei para a capital. Mas, ainda assim, nutro grande paixão por esse momento mágico que é o São João. Mantemos ainda a tradição na culinária, nas músicas, por exemplo.

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