quinta-feira, outubro 24, 2002

Eu já estava pensando em vir aqui escrever como tá a situação aqui em casa. Não estou boa com palavras hoje, nem com emoções, mas eu preciso escrever tudo isso, para ver se tudo se ajusta melhor na minha cabeça...
Eu já tinha percebido há alguns dias que essa é a fase mais difícil que nós estamos conscientemente enfrentando nesses 6 anos de luta. Creio eu que já passamos por coisas mais dificeis, mas não tinhamos consciência de nada. Agora temos.
As coisas estavam bem tranqüilas, o CA (um medidor) estava baixinho, como sempre sonhamos...
Aí vem a bomba. De repente, tudo se transformou. Minha mãe começou a sentir os olhos embaçando. Em exames, no final do mês passado, descobriu-se um tumor no cérebro. Ainda tava pequeno. Assustou, mas foi só o começo...
Ela começou a fazer radioterapia na cabeça. Queimou a cabecinha dela todinha. Os cabelinhos que já estavam despontando, depois das quimioterapias passadas, foram todos queimados. Minha mãe estava totalmente careca, de novo. Assumiu tudo isso com a coragem que lhe é característica e ainda continuou a trabalhar. Os exames demonstravam que ainda havia algo de errado. O tumor não regrediu o esperado com a radioterapia e ainda apareceram outros focos no fígado. A médica, então, lhe pediu para que fizesse sessões de quimioterapia toda segunda-feira. A primeira foi na semana passada. Antes da quimioterapia, na segunda-feira, ela foi fazer um ecocardiograma (creio que seja esse o nome do exame). Lá o médico descobriu que seu pericário estava novamente com líquido. Era a pericardite novamente. No ano passado foi 1 litro, agora, pelo menos, são 200ml. Mas as coisas não pararam por aí. Na quarta-feira eu a acompanhei numa ultrassonografia. Tomando banho, ela tinha descoberto um carocinho na mama. A ultrassonografia apontou não só um tumor, mas três. Ainda não sabemos se são câncer...e eu espero (por mais que seja uma esperança ilusória) que não seja.
Fui chamada pela minha mãe há poucos minutos e ela me pediu uma bolsa de viagem. Surpresa perguntei se ela já estava arrumando as coisas para viajar na eleição (já que ela vota no interior) e ela me disse que não, ela estava arrumando as coisas, na verdade, para entrar no centro cirúrgico amanhã. De uma hora pra outra. Meu pai só entrou em contato com o cardiologista e ele preferiu que assim fosse.
E aí? Puxa...isso dói muito! Tenho medo de estar perdendo a minha mãe, tenho medo de estar me iludindo achando que ela ainda vai sair dessa. Eu só tenho 19 anos, minha mãe tem 49 e está prestes a completar 50. Ela sempre sonhou com seu aniversário de 50 anos, ela já está arrumando tudo (e eu espero que esse aniversário ainda aconteça...). Eu vejo pessoas que têm a vida mais fácil que a minha, vejo pessoas que por nada se irritam com seus pais e até os distratam. Nossa...como eu tenho saudades da minha mãe saudável. Ela que sempre foi ativa, mesmo com essa doença. Pq ela? Pq minha mãe? Pq com essa idade? Pq eu tenho que sofrer tudo isso? Eu não consigo mais parar de chorar...eu não sei o que eu faço com a minha vida....

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