Ela falava alto, não escondia (ou não conseguia fazê-lo) o tanto de emoção que cada palavra carregava. Era uma clínica. Daquelas chamadas clínica de imagem. Mas isso pouco interessa, pois o que realmente importava para ela, naquele dia, não era um diagnóstico médico.
Demorei a perceber quem estava do outro lado. Não me culpe se eu ouvia a conversa. De fato, ela tentou evitar. Mas não era algo que se pudesse evitar. Ainda que na sala tivessem crianças correndo e gritando e uma televisão ligada no desenho animado de todas as manhãs.
Do outro lado da linha, um rapaz, por quem a moça nutria uma paixão. Era clara a ausência de reciprocidade. Ela cobrava, pedia mais atenção, queria saber onde ele estava, por onde tinha andado. E, mesmo que não se pudesse escutar o que ele respondia, ficava óbvio que tudo que ele queria era que ela não tivesse telefonado.
Ele dizia que passou o fim de semana na casa da mãe. Ela dizia que a distância que sempre existiu entre eles era acentuada pelas ações dele. Ela cobrou - indiretamente, é verdade - que ele correspondesse ao tempo que ela passou investindo nele.
Em algum momento, ela resolveu virar-se para a parede, na tentativa de evitar a atenção dos que estavam por perto. No entanto, sua voz refletia no obstáculo e ressoava ainda mais clara.
Percebi que aquele era um dia doloroso para ela, a moça que tomou o elevador em que eu já estava e foi para a mesma clínica que eu ia. Uma mulher que, a cada palavra, perdia seu amor próprio e implorava por uma atenção que nunca será exclusivamente dela.
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