Chegou a hora de escrever. Tenho protelado isso há alguns dias, talvez semanas. Não meses, meses não.
É tempo de tocar numa dor que me paralisa, que toma as minhas energias e que não me deixa avançar na vida. Uma ferida que talvez tenha sido aparecido aos poucos, antes mesmo que eu visse a luz pela primeira vez. Antes mesmo de sentir o vento no meu rosto. Antes mesmo de conhecer o rosto dos meus pais.
É uma dor amarga, de mágoa, que machuca, doi e costuma remoer. Uma parte dela já se sedimentou pelo tempo. Mas é como um urso que hiberna. Uma palavra, um gesto, uma atitude, um cheiro podem acordá-la.
Preciso tocá-la, entendê-la, dialogar com ela e ver se posso transformá-la em algo bom para mim e para todos ao meu redor. Não posso mais permitir que minha energia esteja totalmente focada nessa dor.
E esse urso foi acordado. Há 1 ano, há 7 meses, há 3 meses. Agora é hora de fazer com que ele volte a dormir. Mas não como antes. Ele precisa dormir em paz e me deixar viver. É hora de fazer com que ele tenha um sono leve, sem agitações e que saiba quando agir, se algum dia for acordado novamente.
É hora de sentar para conversar, querido agitado urso.
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